Decisão definitiva fica para o próximo governo, diz Nelson Barbosa, secretário de Política Econômica
A cobrança de Imposto de Renda sobre o ganho da caderneta de poupança é uma saída temporária para permitir que os juros continuem caindo e que empurra para o próximo presidente a decisão de mexer em definitivo num dos temas mais polêmicos da economia.
Em entrevista à Folha, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, diz que o texto já encaminhado para assinatura do presidente Lula garante ao país dois anos para discutir uma reformulação das regras que dão hoje à caderneta uma remuneração mínima de 6,17% ao ano.
“É uma solução temporária, que dá conta de estabilizar a situação para uma taxa básica de juros nominal de até 7% ao ano, que é o cenário que se prevê para a economia brasileira nos próximos 12 a 24 meses.” Para o secretário, a medida não impedirá que os fundos de investimento cortem suas taxas de administração. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida à Folha.
FOLHA – Há o risco de não cumprir a meta de superavit deste ano e de 2010?
NELSON BARBOSA – Segundo as avaliações do Tesouro, da Receita, somos capazes de cumprir a meta neste e no próximo ano. Tendo em vista o impacto da crise, flexibilizamos a meta e ainda temos o fundo soberano para usar se for necessário.
FOLHA – O fundo pode ser uma fonte de receita para incentivos a investimentos. Quando será o momento de usá-lo?
BARBOSA – Essa é uma decisão para dezembro, quando o PIB do terceiro trimestre será divulgado. Lá teremos uma ideia bem clara do ritmo de recuperação da economia brasileira e como a receita está respondendo a isso.
FOLHA – Qual é o custo?
BARBOSA – Cada ponto percentual sobre a folha equivale a R$ 3,5 bilhões a R$ 3,7 bilhões [em receitas].
FOLHA – A ideia é reduzir em quanto?
BARBOSA – Há várias propostas. Provavelmente para ser possível tem de ser gradual, ao longo de vários anos.
FOLHA – Como enfrentar o problema do real valorizado?
BARBOSA – A política do governo continua sendo de câmbio flutuante e o ajuste se dá pelos efeitos da própria apreciação ou depreciação do câmbio. A política é deixar o câmbio flutuar, mas ter sempre alto nível de reservas internacionais.
FOLHA – Porque o governo optou por tributar a caderneta de poupança em vez de resolver o problema criado pelo rendimento fixo e mexer na indexação da aplicação à TR?
BARBOSA – O que fizemos foi simplificar a proposta [anterior], para o consumidor ter mais facilidade para se adaptar a essa proposta. A atual regra da poupança estabelece um piso para taxa de juros no Brasil. Se há uma aplicação que paga, sob qualquer circunstância, 6,17% ao ano, na prática, essa é a taxa mínima da economia. Obviamente isso terá que ser enfrentado, à medida que a Selic continue a cair.
FOLHA – Mas essa é uma solução temporária?
BARBOSA – É uma solução temporária que dá conta de estabilizar a situação para uma taxa básica de juros nominal de até 7% ao ano, que é o cenário que se prevê para a economia nos próximos 12 a 24 meses.
FOLHA – A regra permanente terá de vir em 2011?
BARBOSA – Depende do comportamento da taxa de juros. Essa solução que temos dá conta do cenário previsto para 2010 e 2011. Ela resolve o problema atual e possibilita que o Brasil decida nesses próximos dois anos como adaptar permanentemente essa estrutura financeira.
FOLHA – Essa solução temporária não beneficia os fundos de investimentos, que não precisam mais reduzir taxas de administração, consideradas elevadas?
BARBOSA – Com a queda da remuneração, os fundos terão de reduzir suas taxas de administração para serem competitivos com a poupança.
Fonte: Folha de S.Paulo
Escrito por: SHEILA D’AMORIM e VALDO CRUZ, DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
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