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Ninguém mais tem medo do Brasil

Foi-se o tempo em que eleições presidenciais afastavam o capital estrangeiro do país. “Os investidores não têm mais medo do Brasil”, diz Luca Luciani, presidente da TIM, a terceira maior empresa de telefonia celular em operação no mercado brasileiro.
Para ele, diante das perspectivas de forte crescimento econômico e com o ascensão de mais de 30 milhões de pessoas para a classe média nos últimos seis anos, o país se tornou obrigatório para as companhias que querem expandir seus negócios. “A visão que o mundo tem do Brasil é muito clara. É um país que tem riquezas naturais incríveis, mais de 20 anos de história democrática forte, acompanhada de um processo de desenvolvimento com inclusão social e estabilidade econômica e monetária”, afirma.
No caso da TIM, particularmente, a importância do país ganha dimensões maiores, devido à estagnação da Itália e da Europa, onde está o grosso das operações do grupo que a controla, a Telecon Italia. Não é à toa que a TIM investirá R$ 2,5 bilhões no Brasil neste ano — um recorde —, 25% a mais do que em 2009. Apesar dos constantes rumores, o executivo garante que a companhia não esta à venda. E assegura que a empresa, uma das campeãs de reclamação nos Procons, será, em breve, modelo quando o assunto for qualidade nos serviços de telecomunicações. A seguir, os principais trechos da entrevista que Luciani concedeu ao Correio Braziliense.
Na semana passada, o Ministério da Justiça convocou as empresas com maior índice de queixas nos Procons de todo o país. Por que o setor de telecomunicações lidera as reclamações?
Nenhum outro setor da economia tem o tamanho do de telefonia. Portanto, basta comparar o número de celulares e o número de ligações, que aumentam a cada dia, para se perceber que, proporcionalmente a outros setores, o volume de reclamações é muito mais baixo. Eu, particularmente, acredito que o setor ganhou muito em qualidade. A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) acompanha bem esse negócio. Na Itália, não há a divulgação das metas (de qualidade e de atendimento) a cada mês. No Brasil, isso é regra, mostrando que os consumidores estão mais exigentes.
Mas o senhor reconhece que ainda é preciso melhorar muito para atender o aumento da demanda?
Com certeza. Nós, por exemplo, já atingimos um nível bom, mas firmamos um compromisso (com o Ministério da Justiça) de melhorar o indicador (de reclamações) em 25% neste ano. O primeiro pilar da nossa estratégia vai ser exatamente a qualidade.
O atendimento tão criticado pelos consumidores é resultado da falta de competição no setor?
Creio que não. Estamos falando de um país com 190 milhões de habitantes, com capacidade de escolher com liberdade entre as diferentes operadoras. O consumidor brasileiro é um dos mais rápidos para escolher uma promoção e comparar, sobretudo no sistema pré-pago.
A TIM vinha sendo muito criticada por ter parado de investir, tanto que perdeu a segunda posição no ranking nacional para a Claro no fim de 2008. Isso teve a ver com a falta de qualidade nos serviços entregues aos consumidores?
Vivemos um momento difícil entre 2007 e 2008, com queda de qualidade. Por isso, ampliamos nossos investimentos no Brasil para aumentar a competitividade e, evidentemente, ampliar a participação no mercado. Essa foi a missão que me foi atribuída quando assumi a presidência da empresa. A TIM é fundamental para a Telecom Italia. O mercado italiano está cheio, não cresce mais. A Europa não tem crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Já o Brasil tem grande possibilidade de expandir. Vale a pena investir neste país. Acredito que todos os analistas viram os números da empresa (apresentado há duas semanas na Europa) e perceberam que a maioria dos recursos a serem alocados virão para o Brasil. Vamos desembolsar R$ 2,5 bilhões neste ano, 25% a mais do que em 2009.
A TIM tem como meta chegar ao primeiro lugar no mercado de celular?
Nós temos um desafio: ser a primeira na preferência dos consumidores, o que não significa, necessariamente, ser a maior em tamanho e em número de linhas. Temos duas metas: qualidade e competitividade na inovação da oferta. Se chegarmos a ser a primeira em preferência, poderemos ser a primeira em mercado no longo prazo.
Qual foi o erro da TIM no passado?
Houve uma combinação de dois elementos. O primeiro foi a queda na inovação. O segundo, o recuo na qualidade. Também reconheço que o preço que cobrávamos estava exagerado. O cliente sabe escolher muito bem. Ele compara as operadoras e sabe identificar aquelas que têm boa rede, bom serviço, promoções e inovações .
A competição no Brasil é mais acirrada do que em outros países?
Na telefonia móvel, sim. Na fixa, não, por causa do monopólio nesse segmento. A regulamentação andou muito bem na telefonia móvel. Por isso, o serviço cresceu muito. Infelizmente, não vimos isso entre as empresas de telefonia fixa.
A TIM está à venda?
Os rumores sobre a venda da TIM sempre vão e voltam. A última vez que eles surgiram envolveram a francesa Vivendi, que comprou a GVT. Nós gostamos dessa história, pois valoriza nossa marca, nossos ativos. Mas é importante ficar claro que a TIM Brasil é central na estratégia do grupo. E vamos crescer para contribuir mais para o grupo. Agora, é evidente que o mercado financeiro gostaria de uma consolidação do setor.
Estamos em um ano de eleições. E, sempre nesses períodos, a desconfiança em relação ao Brasil volta à tona, diante do temor de rompimento de regras, de quebra de contratos. O Brasil mudou, na sua opinião?
Acredito que nada vai mudar no atual cenário. O Brasil tem um dos sistemas monetários mais sólidos do mundo, juntamente com o Canadá. Nenhum banco quebrou depois da recente crise. Não há problemas com derivativos (operações de altíssimo risco que levaram ao estouro da bolha imobiliária americana). Os investidores não têm mais medo do Brasil, independentemente de quem for eleito para a Presidência da República, seja de esquerda ou de direita, porque a fórmula é muito clara: inclusão social, por um lado, e responsabilidade econômica e monetária, por outro.
Como a TIM avalia a iniciativa do governo de criar o Plano Nacional de Banda Larga, para levar internet rápida a todos os municípios brasileiros?
O primeiro ponto importante é a validade do debate, que já aconteceu em Cingapura e na Europa. É muito bom que isso esteja acontecendo no Brasil e de forma rápida. Por que? O celular precisou de cinco, seis anos, para se desenvolver e alcançar um nível elevado. A internet precisará de um, dois anos. Essa é uma vantagem competitiva do país. Houve debates públicos, com grande presença da mídia, dos políticos, das empresas, do agente regulador. Isso é muito bom porque foca a temática e encurta o tempo para se tomar decisões.
Como o senhor vê a possibilidade de se criar uma estatal e de se usar as redes da Eletronet no plano de banda larga?
Acredito que a solução está muito clara para todos os técnicos: tem que compartilhar a infraestrutura existente. Duplicar não faz sentido. Além disso, temos que abrir os monopólios naturais das redes fixas, introduzindo uma fórmula muito clara, que já está prevista na lei, para cobrar um preço acessível da linha alugada. Sem isso, não tem como chegar lá. A fórmula é criar competição e oferecer um serviço universal.
Fonte: Correio Braziliense
- 4 de maio de 2010
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