Arrecadação do fundo de garantia perdeu para inflação pelo segundo ano seguido
O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço encerrou 2009 com o maior valor de arrecadação bruta anual, de R$ 54,8 bilhões, crescimento de 12,4% em relação ao ano anterior, segundo dados divulgados pela Caixa Econômica Federal. Para 2010, o fundo terá orçamento de R$ 56,2 bilhões.
O volume anual de saques do fundo também foi recorde, e alcançou R$ 47,8 bilhões, alta de 12,1% na comparação com o ano anterior. A arrecadação líquida ficou em R$ 6,95 bilhões, 15,2% maior que em 2008.
No entanto, pelo segundo ano consecutivo, em 2009 o dinheiro do trabalhador depositado no fundo encolheu. As contas do FGTS tiveram remuneração de 3,9% no ano passado, enquanto a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 4,3%. Ou seja, o rendimento do FGTS foi 0,4% inferior ao aumento dos preços.
O vice-presidente de fundos da Caixa Econômica Federal, Wellington Moreira Franco, diz que a perda de rendimento é consequência da queda dos juros no País. Por lei, os depósitos do FGTS têm rendimento de 3% ao ano mais Taxa Referencial (TR). A questão é que TR é calculada com base na média dos juros cobrados pelos bancos nos CDBs (Certificados de Depósitos Bancários). Esses papéis seguem os juros praticados no mercado, que sofrem influência da taxa básica (Selic), hoje em seu menor nível da história (8,75% ao ano). Assim, se a Selic cai, a TR também cai e, por consequência, a rentabilidade do FGTS.
“Todas as aplicações de renda fixa tiveram a menor rentabilidade da história no ano passado, inclusive a Selic”, ponderou o vice-presidente de Recursos de Terceiros da Caixa, Bolivar Tarragó.
A remuneração mais baixa é conjuntural, acrescenta Moreira Franco. Ele ressalta que, no longo prazo, a correção do FGTS supera a inflação. Números apresentados pela Caixa mostram que, desde junho de 1993, o FGTS acumulou até o ano passado rendimento de 27.610,5%, enquanto a inflação ficou em 22.810,2%.
Em 2008, enquanto o fundo rendeu 4,5%, o IPCA bateu em 5,90%. Isso significa que houve perda real de 1,4% no saldo. No ano passado, a taxa de remuneração nominal do FGTS (3,9%) foi a menor desde 1993, quando entrou em vigor a atual forma de cálculo. Não foram as primeiras vezes que o FGTS rendeu menos que a inflação. Em 2002, por exemplo, o rendimento foi de 5,7%, para um IPCA de 12,5%.
Também houve, em 2009, a maior quantidade de empresas com recolhimento do FGTS (média de 2,6 milhões) e o maior número de trabalhadores com depósitos mensais (média de 30 milhões). Este último número chegou a 31,4 milhões em dezembro.
O FGTS encerrou o ano com patrimônio líquido de R$ 31 bilhões e ativos totais de R$ 235 bilhões.
Do total de saques, as demissões responderam por 65%, a aposentadoria, por 13%, o segmento habitacional, por 12%, e outros fatores, pelos demais 11%.
Desempenho da poupança é o pior dos últimos 43 anos
A tradicional caderneta de poupança teve, em 2009, a pior rentabilidade dos últimos 43 anos. Segundo levantamento da empresa de informações financeiras Economática, o ganho da aplicação no ano passado, de 7,05%, ficou 0,85 ponto percentual abaixo de 2008. Antes disso, o menor patamar do período havia sido em 2007, quando a poupança rendeu apenas 7,77%.
A queda na rentabilidade é reflexo direto dos cortes feitos pelo Banco Central na taxa básica de juro, hoje em 8,75% ao ano. A poupança tem remuneração de 6% ao ano mais Taxa Referencial, que é calculada a partir dos juros cobrados pelos bancos nos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). O ganho desses papéis acompanha a variação da Selic. Mas, apesar da queda na rentabilidade, a boa notícia é que o ganho real, descontada a inflação de 4,31%, voltou a subir depois de três anos de queda. No ano passado, a remuneração real ficou em 2,63% ao ano. Na prática, um investidor que aplicou R$ 1.000 no fim de 2008 terminou 2009 com R$ 1.070,50. Descontada a inflação, ele teve um ganho real de R$ 27,40.
Na avaliação do administrador de investimentos Fábio Colombo, apesar da pequena rentabilidade em 2009, a poupança continua sendo a melhor opção de investimento para aquelas pessoas que não têm acesso a fundos de investimentos com taxas de administração mais atraente. Além disso, não tem incidência de imposto de renda.
Colombo destaca que o importante é guardar o dinheiro. “A rentabilidade fica em segundo lugar.” Segundo ele, o brasileiro se acostumou com os juros elevados que sempre dava a sensação de um ganho polpudo. Mas, durante muito tempo, a inflação corroeu parte desses juros. Agora está havendo uma convergência.
Fonte: Jornal do Comércio – SP
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