Como enxergar e lidar com os impactos da tecnologia em nosso cotidiano?
Os sistemas de inteligência artificial têm sido considerados cada vez mais estratégicos para todos os setores econômicos ao redor do mundo. Estimuladas pelos ganhos de produtividade, as empresas têm adotado soluções integradas com Machine Learning e Big Data. Estima-se que os gastos globais com sistemas de inteligência artificial alcancem em torno de US$ 36 bilhões em 2019, o que representa um crescimento da ordem de 44% sobre os investimentos feitos em 2018. A previsão da consultoria especializada em tecnologia IBC é que as indústrias invistam mais de US$ 79 bilhões até 2022.
Em função do crescimento da aplicação da tecnologia, uma série de países vêm implementando legislações voltadas à regulamentação do uso dos dados pessoais. Em maio de 2018, entrou em vigor, na União Europeia, a General Data Protection Regulation e, no início deste ano, os Estados Unidos lançaram o Algorithm Accountability Act. Em fevereiro de 2020, esgota-se o prazo para as empresas de adequarem à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), no Brasil.
Instituições internacionais como o Fórum Econômico Mundial e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) também têm voltado sua atenção ao tema.
“O Fórum Econômico recomenda fortemente que humanos sejam inseridos em cenários sensíveis, que proteções sejam implementadas para que as máquinas possam se autocorrigir e que códigos de ética sejam criados”, indicou Juarez Quadros, diretor de Telecomunicações do Departamento de Infraestrutura da Fiesp (Deinfra), durante o workshop Inteligência Artificial e Impactos na Sociedade, realizado na sede da entidade, na quarta-feira (24/7).
Ele também sublinhou algumas das principais sugestões feitas pela OCDE para a implementação de um cenário tecnológico seguro, entre elas, a criação e a consolidação de autoridades de proteção de dados que possuam governança, recursos e capacidade técnica necessárias para a execução de seus poderes.
“Com iniciativas como essas, os Estados e as principais organizações do mundo reconhecem e institucionalizam a questão fundamental que é a proteção de dados pessoais”, enaltece Quadros.
Além da pauta regulatória, outros pontos sensíveis estão intrinsecamente relacionados à aplicação da tecnologia e da inteligência artificial nas atividades diárias da sociedade. O mais notável deles diz respeito ao modo como as máquinas impactam a interação e as atitudes humanas.
“Não podemos deixar que os algoritmos conduzam nosso comportamento e tomem decisões por nós”, alerta Vitor Saldanha, conselheiro da Associação Brasileira de Inteligência Artificial (ABRIA). “A tecnologia otimiza nossa rotina e facilita nosso dia a dia, mas precisamos ter senso crítico, o que torna a educação digital tão fundamental”, ressalta Saldanha.
Jefferson Denti, Artificial Intelligence Expert da Deloitte, concorda que aprender a usar a tecnologia, conhecer sua regulação e entender seus processos pode ser desafiador, mas também reconhece que a cultura digital e um ecossistema colaborativo podem facilitar essa adaptação.
“Quando estabelecemos um ambiente colaborativo de aprendizado em conjunto, aprendemos a aplicar o que humano e máquina fazem de melhor, ganhando velocidade com precisão e competitividade”, explica Denti.
Mas do que vale uma inteligência sem propósito? De acordo com o especialista, os ganhos em agilidade e eficiência proporcionados pela inteligência artificial são incontestáveis, mas não podemos ignorar o valor de estabelecer conexões que tenham significado.
“Para atender os humanos, posso ter tudo automatizado, mas também tenho que gerar valor e agregar dentro da cadeia, ou seja, conectar esses dois mundos de uma forma que haja engajamento”, esclarece. “A inteligência artificial vai nos ajudar a capturar e analisar dados com mais facilidade, mas precisamos dar contexto e significado para essas análises, não podemos perder o elemento humano nessa relação”, enfatiza o convidado.
Em uma era marcada por assistentes virtuais, escovas de dente inteligentes e veículos autônomos, nunca se tornou tão necessário refletir sobre as aplicações dessas tecnologias, suas vulnerabilidades e seu dilemas éticos. Diante de mudanças tão bruscas e velozes, nunca foi tão prudente questionar a crescente dependência humana da inteligência artificial.
Por Mayara Moraes, Agência Indusnet Fiesp
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