29/05 – Com o resultado do PIB bem abaixo do esperado, quase a metade do que o mercado esperava, a curva de juros futuros da BM&F desaba.
“O PIB praticamente descarta a alta de 0,50 ponto percentual (p.p.) para hoje à noite”, diz André Ferreira, diretor da Futura Corretora.
A precificação da curva, antes da divulgação do PIB, mostrava a predominância das apostas por uma alta de 0,50 p.p. na Selic, que mudou para uma maioria agora posicionada no aguardo dos mesmos 0,25 p.p. de abril.
Com giro de R$ 47,830 bilhões, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2014 recuava de 8,15% para 8,08%, enquanto o para janeiro de 2015 caía de 8,63% para 8,50%, com volume de R$ 37,819 bilhões.
Na avaliação de Ferreira, o mais correto seria uma elevação que levasse a Selic nesta quarta-feira (29/5) para 8% ao ano – “acredito que é melhor um remédio mais rápido e mais forte do que devagar e prolongado” – mas, “perante o PIB que saiu”, a possibilidade fica bastante enfraquecida, admite o especialista.
Na composição do PIB, destaque negativo para o consumo das famílias, que ficou estagnado, e “ajudou” serviços a desacelerar a alta para 0,5% de janeiro a março, após os 1,1% da aferição imediatamente anterior.
“O dado do PIB refletiu a inflação alta que está corroendo o poder de compra das famílias. Esse resultado justifica a aceleração no ritmo de alta dos juros para conter a inflação, mas ao mesmo tempo a gente sabe que essa aceleração pode prejudicar o crescimento”, fala Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco WestLB.
O resumo da ópera é a de que o governo encontra-se numa sinuca de bico, pondera Rostagno, e os condutores da economia nacional terão de optar por uma postura cautelosa (alta de 0,25 p.p.), que visa a preservação do crescimento no curto prazo, ou uma posição mais agressiva (alta de 0,50 p.p.), também de olho no nível da atividade, só que no médio/longo prazo.
“Difícil saber qual lado vai prevalecer, mas pelo histórico recente, onde o BC tem se pautado pela cautela para evitar um impacto no crescimento”, a alta de 0,25 p.p. é mais provável, diz o estrategista do WestLB, que mantém, contudo, sua projeção por um aumento de 0,50 p.p. hoje.
“Reconheço que aumentou a chance de 0,25 p.p., mas mantenho a aposta em 050 porque acho que é o que tem de ser feito”.
Embora o mercado avalie, desde o início de 2013, que a inflação vai desacelerar no segundo semestre, Rostagno ressalta que “sempre se falava que a inflação de alimentos vai desacelerar, e essa desaceleração sempre é postergada”.
O especialista nota que o comportamento esperado para o comportamento dos preços, no decorrer de 2013, não tem sido como o projetado, o que aumenta as incertezas sobre o futuro próximo. “Os dados recentes de inflação não indicam alívio no cenário inflacionário, ainda mais quando colocamos na conta essa alta do câmbio”.
Câmbio
A recente apreciação na taxa do dólar, que já chega à casa de 5,2% em maio, por conta da percepção de redução do programa de estímulos do Fed, somou-se nesta quarta com a declaração do ministro da Fazenda, após o PIB, de que o câmbio não é uma preocupação, e que a desvalorização do Real aumenta a competitividade do país.
Com isso, a alta da moeda americana ante a brasileira supera 1% – há pouco a divisa subia 1,5%, e era negociada a R$ 2,105 na venda.
Ainda temos de aguardar, diz Rostagno, para saber qual a nova banda informal que deve ser defendida pelo governo.
No próximo dia 4, lembra o estrategista, a Cetip realiza um leilão de venda de NTN-A3 de aproximadamente US$ 4 bilhões, com o mesmo efeito de uma operação de swap cambial reverso (equivalente a venda de dólares no mercado futuro) do BC.
Além disso, a expectativa de um aumento na magnitude da alta da Selic também gerava a perspectiva de que estrangeiros trariam mais dólares ao país para ganhar com a taxa de juros mais rentável.
“Se depois do leilão e do Copom, não fizerem nada, vamos poder dizer que estão permitindo uma nova banda. Temos de esperar esses eventos, mas aparentemente estamos sim. Eu trabalhava com uma banda entre R$ 1,95 e R$ 2,03, que já ficou para trás”.
Os dados do fluxo divulgados esta tarde pela autoridade, que mostraram entradas de US$ 10,8 bilhões em maio, até dia 24, o melhor resultado do ano até agora, não causaram qualquer diminuição na forte alta do dólar.
Fonte: Brasil Econômico
Escrito por: Lucas Bombana
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