Para que a sociedade saiba se, de fato, as empresas estão incorporando práticas de ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança) nos negócios, é preciso que as informações sigam um padrão universal que facilite a sua apuração interna, comparação com o mercado e verificação independente, explica o consultor e professor Fernando Murcia, diretor de pesquisas da Faculdade Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras).
Durante o evento de comemoração dos 48 anos de existência da Fipecafi, em 18/08, Murcia conversou com o Portal ContNews sobre como o desenvolvimento da ESG amplia as oportunidades profissionais para contadores. “É preciso trazer informações mais qualitativas, envolvendo pessoas, capital intelectual e a relação da empresa com a comunidade e meio ambiente”, observa Murcia.
Em outras palavras, os relatórios no formato ESG precisam ser mais específicos e abrangentes. “Hoje, a informação ESG é muito solta e basicamente greenwashing [termo usado para definir falsos discursos e ações em prol da sustentabilidade], mostra muita plantação de árvore. Tudo isso não é necessariamente ruim, mas os stakeholders (públicos estratégicos, como acionistas, governo e clientes) demandam que contadores se aprofundem sobre temas adicionais de ESG”, detalha Murcia.
Normas, apuração e auditoria
Uma vez que a criação de padrões contábeis internacionais de ESG já vem sendo discutido em entidades renomadas, como o IFRS, quem se especializar nessa área vai sair na frente da concorrência. Murcia cita que há três frentes de desenvolvimento: criação de normas universais, apuração de informações socioambientais e auditoria ESG.
1) Normas padronizadas
Migrar para uma economia sustentável e de baixo carbono é um princípio fundamental de ESG e envolve, entre outras ações, informar corretamente à sociedade qual o nível de exposição de uma empresa a riscos sociais, ambientais e climáticos. Além de definir quais indicadores ESG, é preciso criar um padrão internacional, explica Murcia.
O primeiro passo é criar uma formatação universal para que se possa comparar o desempenho da empresa frente ao mercado. “Hoje não consigo fazer isso através do relatório delas. É preciso ter padronização de normas”, resume Murcia.
2) Mensuração
Para avaliar um ativo social ou ambiental, há que se considerar impacto financeiro, reputacional e de marca. Pela expertise técnica de avaliação contábil-financeira, os contabilistas podem ter papel maior na criação de novos indicadores, diz Murcia.
“A mensuração é subjetiva. Não é o quanto um ativo custa, mas o quanto ele vale. Para atribuir valor a alguma coisa, os contadores terão que entrar em uma área onde o julgamento é importante e dialogar com outras áreas.”
3) Auditoria
Da mesma forma como é feito para as demonstrações financeiras, as companhias abertas terão que submeter os relatórios sobre emissão de gases poluentes ou impacto ambiental de projetos, por exemplo, às verificações independentes antes de serem publicados.
Contadores não são especialistas ambientais ou de governança corporativa, mas podem ajudar a padronizar informações, segundo o professor. “Fomos treinados para fazer isso. Podemos ser o órgão centralizador que vai agrupar as informações dentro da empresa e produzir para o mercado.”
Para Murcia, trazer o ESG para o modelo financeiro de negócios é um dos principais desafios dos contadores. “Hoje, a parte ambiental é totalmente separada da empresa e incorporar essa prática ao negócio tem que algo genuíno e demonstrável, para demonstrar que a empresa é efetivamente sustentável.”
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