18/04 – Os diretores das companhias abertas brasileiras receberam em média R$ 1,86 milhão ao longo de 2010. Isso representa um aumento de 36% sobre o ganho médio de 2009. Os dados consideram remuneração fixa, bônus e pagamento baseado em ações de 189 empresas de capital aberto pesquisadas pelo Valor.
Incluindo não apenas o pagamento aos diretores, mas também aos conselheiros de administração e conselheiros fiscais, as empresas gastaram ao todo R$ 3,29 bilhões em 2010. Esse valor supera em 33% o desembolso total realizado em 2009, de R$ 2,48 bilhões.
Para este ano, a previsão é que o valor total gasto com executivos e conselheiros aumente 20%, para R$ 3,94 bilhões, conforme propostas enviadas pelas empresas para aprovação dos acionistas. No ano passado, apesar do aumento de 33% no gasto total, o crescimento da despesa ficou abaixo da estimativa máxima, que chegava a 42% de alta.
Se houvesse uma companhia aberta que seguisse todas as médias de mercado, ela teria sete diretores estatutários e oito conselheiros de administração. O gasto com a diretoria seria de R$ 14,88 milhões e com o conselho, de R$ 2,39 milhões.
Encabeçando a lista das diretorias mais bem remuneradas em 2010 entre as empresas de capital aberto do país aparece o Itaú Unibanco, com pagamento médio de R$ 14,4 milhões per capita. Em seguida está a OSX, fabricante de navios em estágio pré-operacional do grupo EBX, de Eike Batista, com R$ 13,3 milhões por diretor. Em terceiro está a HRT, empresa de petróleo que também não opera e abriu o capital no fim de 2010. A média nesse caso ficou em R$ 11,6 milhões.
Em comum, essas três empresas possuem agressivos planos de pagamento baseado em ações, que não representam entrada de caixa imediata para o executivo, mas sim um potencial ganho futuro com a valorização dos papéis ao longo de vários anos.
O levantamento mostra apenas o pagamento médio porque muitas empresas grandes ainda usam a liminar judicial que permite às associadas à regional Rio do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-Rio) não revelar o maior e o menor salário pago dentro de cada órgão administrativo.
Assim, o dado pode esconder distorções, já que um pagamento volumoso a apenas um executivo pode elevar a média geral.
O levantamento foi feito com base nos dados do Formulário de Referência – documento anual de informações das companhias abertas – que foram divulgados por conta da convocação da assembleia geral ordinária de 2011. Nos casos de empresas abertas em que os diretores e conselheiros recebem tanto da holding como de subsidiárias, os valores foram somados. Quando o pagamento das subsidiárias não foi informado, a empresa foi excluída da pesquisa.
Olhando os dados por tipo de remuneração, o maior destaque está no aumento do peso do pagamento baseado em ações no total. A fatia dessa modalidade saltou de 10% para 18%. A participação dos bônus subiu de 35% para 37% e a remuneração fixa passou a representar 45% do total em 2010, ante 55% de 2009.
Esse crescimento é determinado principalmente pelas empresas do grupo de Eike Batista. Nesse caso em particular, é importante destacar que a maior parte dos valores recebidos na forma de ações são feitos com papéis da carteira do próprio Eike, o que não dilui os demais acionistas.
Considerando apenas as 20 empresas com maior remuneração média dos diretores, o salário médio dentro do órgão dobrou de R$ 3,34 milhões para R$ 6,88 milhões. A mediana de remuneração desse subgrupo avançou 57%, a R$ 4,88 milhões.
Ao se observar as demais 169 empresas, a média de remuneração da diretoria cresceu 13% entre 2009 e 2010, para R$ 1,27 milhão. Já a mediana aumentou 28%, para R$ 1,19 milhão.
Segundo Felipe Rebelli, do segmento de talentos e recompensas da Towers Watson, consultoria especializada nessa área, o aumento da remuneração total recebida pelos executivos era esperado para 2010, principalmente porque em 2009 os resultados das empresas, e consequentemente os bônus pagos aos diretores e conselheiros, tinham sido afetados pela crise internacional.
Ele não acredita que o aumento de remuneração entre 2009 e 2010 já seja uma consequência da abertura dos dados no Formulário de Referência desde o ano passado, mas admite que esse será um fator de pressão agora.
“Imagine que um executivo tenha a opção de trabalhar na empresa A ou na B, as duas com o mesmo nível de remuneração. Só que em uma delas o salário será divulgado e na outra não. A companhia aberta vai acabar tendo que pagar um prêmio pela exposição”, diz o especialista, mencionando que isso ocorreu nos países em que houve a obrigação de transparência.
Do lado da empresa, ele cita também a questão da retenção de talentos e menciona que vê cada vez mais crescer o número de companhias que criam comitês de recursos humanos e remuneração, para tratar de forma mais profissional essa questão.
Fonte: Valor Econômico / por Fenacon
Escrito por: Fernando Torres
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